Amigo:— Cara, você se arrependeu de ter terminado com ela?
Ele: — Olha pra mim, você acha que eu me arrependi? Eu saia sexta e só voltava segunda de manhã pra trabalhar. Eu peguei a mãe, a filha, a prima, a tia e só não peguei a vó da vizinha, porque ela tinha hemorroida. Eu tinha cortesia pra entrar nas melhores baladas. Eu esnobei as garotas que todos os homens queriam pegar. Transei de segunda à sábado, e domingo eu via futebol. Detalhe, sem ninguém em pleno sábado pra fazer carinho no meu cabelo e me chamar com aquele jeitinho único de ‘vem cá pequeno’. Meninas me mandavam mensagens o dia todo e se você perguntar se eu li alguma eu vou te dizer que não, até porque respondendo ou não, elas mandavam de novo no outro dia. Eu podia ver filme pornô, levar a guria que eu quisesse pra minha cama e depois chamar o taxi pra ela ir embora pra eu não precisar gastar gasolina, porque convenhamos, tá cara pra caralho. Eu era o que elas queriam de qualquer jeito. E eu, queria todas de qualquer jeito, mas só um pouquinho cada uma. Chamava todas de bê, pra não errar o nome de nenhuma. E por que diabos elas achavam que isso era fofo? Eu ia pra academia as três das tarde e voltava as oito da noite. Tenho uma coleção de calcinha perdida na última gaveta da minha estante. Eu saia na rua com o som alto no carro e podia escolher a dedo, quero essa, depois essa e mais tarde, essa. Na minha geladeira nunca tinha uma caixa de cerveja, eram no minimo quatro. Eu não devia nada pra ninguém. A única guria que me cobrava alguma coisa, era minha mãe. Me cobrava minha cueca lavada e só. Não tinha ninguém que me mandando música com porra de letra amorosa. Não tinha que ir no cinema ver as comédias românticas e falar “você é a única pessoa que eu quero estar agora”. Não tinha que deixar de ir pra balada pra ir em aniversário de Priminho em Buffet. Não precisava me preocupar em horário e olhava pra quem eu queria na rua. Podia sair todos os fins de semana pra Balada, o que era bom, voltava tão exausto que não lembrava nem do nome da última, quem dirá a primeira menina que peguei. Minha casa tinha festa toda quarta. Camisinha aqui tinha do Bob Esponja até das Três espiãs demais. E eu ainda dava de brinde um moranguinho pra cada garota. Meu trampo era sentado na frente do computador. Peguei tua irmã cara. A amiga dela. A Carolzinha filha do Prefeito da cidade. A Jú filha do gerente do banco. Loira, morena, ruiva, que gostava de pagode até a que gostava de gospel. Eu tinha o mundo na minha mão. Sem alguém que eu pudesse confiar de verdade, que estava comigo pelo meu caráter e não uma cantada boba. Sem amor, só sexo. E muito sexo! E você me pergunta se eu me arrependi? Me arrependi pra caralho. Porque toda essa porra de vida perfeita nesses 4 meses que fiquei sem ela não teve valor nenhum depois que eu vi ela sorrindo de um jeito que nunca sorriu pra mim, pra um outro cara aí. Pra um vagabundo desgraçado que vai fazer ela feliz, porque eu, eu não fiz ela feliz e ainda mandei a melhor coisa que eu tinha na vida me esquecer. E sabe o que é pior? Ela me obedeceu.
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